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Como saber se você tem ataques de raiva?

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Explosões repentinas de raiva podem indicar um profundo mal-estar psicológico e devem ser bem investigadas. Os ataques de raiva são o principal sintoma de um transtorno comportamental introduzido na última versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V), na categoria de “transtornos disruptivos do controle dos impulsos. Trata-se do chamado “transtorno explosivo intermitente” (IED).

Estamos falando de um distúrbio comportamental em que o sujeito experimenta uma tensão crescente que culmina em um verdadeiro ataque de raiva, após o qual a calma retorna.

O evento de raiva é quase necessário para promover um estado subsequente de quietude, às vezes seguido por um profundo estado de remorso ou preocupação.

Imediatamente após a explosão, o sujeito sente-se aliviado, quase gratificado, porém um estado subsequente de remorso pode seguir neste estágio.

Em que consiste o ataque de raiva descrito no DSM V? Gritos, agressões verbais, atos violentos com danos a pessoas ou objetos. Não é incomum que o sujeito sinta o desejo incontrolável de quebrar algo para liberar a raiva.

Essas expressões extremas de raiva, muitas vezes incontroláveis, são desproporcionais à provocação. O evento de raiva (agressão verbal ou física) é impulsivo e pode ocorrer após uma provocação real ou mesmo percebida.

Distúrbios destrutivos do controle de impulsos

Não apenas distúrbios de controle de impulsos. Na primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-I), a agressão impulsiva foi descrita como um indicador no transtorno de personalidade passivo-agressivo (tipo agressivo).

Esse construto foi caracterizado por uma reação persistente à frustração, hiperatividade e reatividade excessiva aos estímulos.

Hoje, os ataques de raiva podem ser característicos de transtornos de personalidade (como transtorno de personalidade limítrofe) e transtornos de humor (como transtorno bipolar e ciclotimia).

Um diagnóstico preciso só pode ser realizado por um profissional. Apenas para fins descritivos, relatarei aqui alguns dos critérios incluídos no DSM V que se referem ao Transtorno Explosivo Intermitente (IED).

  • Explosões recorrentes de raiva que demonstram a incapacidade de controlar os impulsos. Refere-se a agressões verbais, buscando brigas e agressões físicas.
  • O comportamento agressivo é desproporcional à extensão dos estressores psicossociais.
  • A explosão de raiva não tem um propósito premeditado.

O DSM V descreve dois tipos de explosões agressivas (A1 e A2). No critério A1, as explosões agressivas são de alta frequência, mas de baixa intensidade. Isso significa que os episódios de agressão não são destrutivos ou prejudiciais (não causam danos) e ocorrem com uma frequência média de duas vezes por semana.

No critério A2, as explosões de raiva são mais raras, mas de caráter mais destrutivo. O critério de tempo imposto pelo DSM V vê uma frequência média de três explosões de raiva ao longo de um ano.

Em termos práticos, essa classificação diz respeito aos indivíduos que pelo menos três vezes ao ano vivenciam um episódio de raiva que leva à destruição de objetos ou agressão a pessoas ou animais. Este critério inclui ataques de raiva de alta intensidade, mas de baixa frequência.

O uso de drogas e principalmente o uso de álcool está intimamente associado à desinibição e à conduta violenta. Todos devem evitar o abuso de substâncias, aqueles que sofrem ou suspeitam de ter surtos devem ficar ainda mais longe disso.

A prevalência de IED parece ser maior em homens do que em mulheres (Boyd et al, 2008).

Por que ocorrem as explosões?

Um ataque descontrolado de raiva é sempre o resultado de múltiplos fatores. Na frente neurocognitiva podemos descrever uma baixa atividade do córtex pré-frontal.

Em palavras mais simples: quem age por impulso e perde o controle é uma pessoa que não está acostumada a pensar profundamente antes de agir porque se deixa dominar pelo volume de emoções.

O sujeito, incapaz de suportar as crescentes tensões (volume emocional muito alto) vivenciadas no contexto situacional, literalmente explode. A capacidade de regular o volume emocional pode ser aprendida em qualquer momento da vida.

Supõe-se que o sistema serotoninérgico no nível pré-frontal possa representar a via neuroquímica que medeia a agressão (Steinert et al., 2013). Mas como vimos em nosso artigo sobre como melhorar a produção de serotonina, os níveis de serotonina podem ser modulados pelas mesmas experiências sociais, ou seja, pela forma como vivenciamos as adversidades.

Como se pode entender, há uma circularidade (e influência recíproca) entre a forma como nosso sistema nervoso funciona e a forma como vivenciamos o ambiente ao nosso redor.

Como argumenta o neurocientista Damásio, as atividades mentais e as estruturas cerebrais devem ser vistas como uma unidade. Isso significa que não podemos considerar os fatores neurocognitivos como a única causa de uma birra.

Entre as outras causas predominantes está uma pobre ‘teoria da mente’. A teoria da mente refere-se à capacidade de uma pessoa representar a mente do outro com seus humores e suas intenções.

Quem sofre de explosões de raiva, por outro lado, interpreta as intenções do outro de forma negativa, sentindo-se ameaçado, sofre uma hiperativação (percebida como um estado de tensão crescente) que leva a um ataque de raiva.

Outras causas de explosões de raiva são as circunstâncias situacionais e as experiências internas do sujeito. Circunstâncias situacionais são fatores como frustrações, ameaças ou provocações (reais ou apenas percebidas pelo sujeito).

A teoria frustração-agressão proposta por Miller et al. (1939) sugere que qualquer evento explosivo ou violento é resultado de um estado de forte frustração: a frustração sempre leva à agressão. As pessoas que tendem a experimentar explosões de raiva são basicamente pessoas intolerantes e sofredoras.

Em 1917, Freud falou da raiva narcísica para explicar essas atitudes de natureza agressiva. Posteriormente, Kohult (1971), começou a falar de uma ferida narcísica ao teorizar que as reações agressivas eram o resultado de uma dor oculta.

Em outras palavras: a ameaça à autoestima e ao senso de identidade pode desencadear reações violentas em pessoas particularmente sensíveis. Destacar uma ameaça à autoestima ou identidade não é fácil.

Como sair?

Um caminho psicoterapêutico é fortemente recomendado para aprender a controlar os ataques de raiva. Vejamos alguns fatores que devem ser trabalhados.

Aqueles que experimentam explosões de raiva o fazem porque se sentem oprimidos por um estado de angústia que não encontra outra forma de manifestação além da raiva. Ameaças e provocações também podem dizer respeito a domínios salientes para o sujeito irado. Por exemplo, um simples desacordo pode se tornar uma ameaça à identidade de alguém. Recordamos que a agressão em resposta a uma ameaça é programada biologicamente (Lorenz, 1963).

Então o que fazer?

Aqueles que pretendem aprender a administrar a raiva têm um longo caminho introspectivo a percorrer. Por um lado, ele deve aprender a refletir mais sobre seus estados emocionais e, por outro, entender a extensão das ameaças percebidas.

De acordo com vários teóricos, a raiva é uma resposta instintiva quando percebemos que fomos prejudicados. Como afirmado, aqueles que sofrem explosões de raiva muitas vezes respondem de forma desproporcional à ofensa sofrida.

A situação que o sujeito vivencia no momento da explosão de raiva não representa o dano em si, mas vai evocar um mal sofrido. Compreender as raízes desse erro pode ser um primeiro passo fundamental. Tal trabalho de introspecção permitirá ao sujeito discriminar um estímulo verdadeiramente ameaçador de um estímulo neutro. Leitura recomendada: raiva crônica, onde e quando nasceu.

Simultaneamente a este trabalho de introspecção, o sujeito deve aprender a regular o volume das suas emoções e aumentar a janela de tolerância, que é uma espécie de limiar de suscetibilidade/sensibilidade.

Um aspecto relacionado à raiva é a ansiedade. Se o sujeito sofre de formas de ansiedade (por exemplo, medo do abandono, ansiedade generalizada, medo da solidão), também seria apropriado trabalhar esses aspectos que estão fortemente correlacionados com essas situações mencionadas acima.

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