Vozes que viram braços e empurram. Que impulsionam um time com reconhecidas limitações, mas fazem do impossível algo palpável. Foram 53 mil rubro-negros no Maracanã na noite desta quarta-feira. Pareciam muito mais. A velha e boa casa, agora moderna e bem cuidada, continua acolhedora e mágica. Foi apenas o terceiro jogo do Flamengo no palco reconstruído. Antes, o time enfrentara Botafogo e Fluminense no Brasileirão. Pela segunda vez, o Rubro-Negro mandou uma partida desde o seu retorno ao estádio, mas o melhor jogador do time esteve nas cadeiras. Coube a Elias o gol decisivo da vitória por 1 a 0 sobre o Cruzeiro, que fez a equipe de Mano Menezes avançar as quartas da Copa do Brasil, mas é inegável : o golaço foi marcado fora de campo.
Houve irritação e algumas vaias após alguns erros, principalmente de André Santos e Carlos Eduardo, mas quase 90 minutos de apoio. Ora com vozes, ora com mãos tremendo em clima de suspense, os torcedores do Flamengo não desistiram da classificação nem por um instante. Não houve desânimo. Ninguém arredou o pé antes que a bola entrasse. A impressão que se tinha é de que seria assim até o gol sair. Se preciso fosse, amanheceriam lá. Homens, mulheres e crianças à espera daquilo que foram buscar: vitória e vaga.
O relógio foi cruel. Apressado, fez o primeiro tempo passar quase sem ser notado. Foram 45 minutos de muita pressão, mas de pouca eficiência do Flamengo diante da forte defesa cruzeirense. Além disso, alguns sustos com o ataque celeste. Seria preciso gritar mais na etapa final, fazer os jogadores correrem como nunca, cantar em volume máximo. Foi exatamente isso. Chance atrás de chance, o Rubro-Negro batia e voltava contra os zagueiros rivais. Aos 20 minutos, o grito de gol até saiu, mas retornou rápido e amargo para a garganta. Moreno fez falta no goleiro Fábio, Carlos Eduardo completou para a rede, mas a arbitragem anulou corretamente. Nove minutos depois, silêncio ensurdecedor. Vinícius marcou para o Cruzeiro, que também teve o lance anulado de maneira acertada.
Algo dizia que aquela comemoração efusiva dos torcedores do Flamengo com a notícia da escalação de Elias teria algum fundamento. Vê-lo em campo deu confiança, trouxe a garantia de que seria possível. Mesmo que ela não se confirmasse. Aos 43 minutos do segundo tempo, o volante e os 53 mil rubro-negros festejaram juntos. Jogada de Paulinho pela direita, cruzamento rasteiro para a área, chute colocado, curva venenosa, e gol de vitória e classificação.
Aos 43. Foi assim também em 2001, na decisão do Carioca contra o Vasco. No velho Maracanã, o gol de falta de Petkovic desmontou o adversário. Um a um, eles caíam em campo incrédulos e desanimados. Desta vez foram os cruzeirenses que levaram um soco no estômago.
A torcida do Fla, enfim, voltou ao Maracanã. Agora, aguarda uma decisão da diretoria sobre o futuro do time no estádio. A possibilidade de mandar jogos em Brasília ainda existe, já que a relação com o Consórcio Maracanã S.A não é das mais amistosas. O Mané Garrincha, em Brasília, principal casa da equipe no Brasileirão, também está cotado.
Após a partida, Mano Menezes mostrou-se grato e encantado com os torcedores, mas reconheceu que a sintonia depende muito do desempenho do time. Nós vamos jogar o próximo jogo do Brasileiro aqui no Maracanã (contra o Vitória, dia 4 de setembro). Só é possível manter a magia, a empatia com o torcedor, repetindo isso. Aí ele se identifica com a equipe, empurra mesmo, tem um amor muito grande por quem veste a camisa do seu clube. Estamos aqui para isso. Sabemos das limitações, que não somos os melhores da temporada ainda, mas podemos crescer e nos transformar. Em competições como essa, você precisa ser só melhor na hora que enfrenta o adversário. Não precisa ser o melhor o mês todo. Assim como fomos melhores que o Cruzeiro – disse o treinador rubro-negro, seria um pecado que o público voltasse para casa sem a vaga.
Nas quartas de final, o Flamengo vai enfrentar o Botafogo, que eliminou o Atlético-MG no Independência. Os jogos serão nos dias 23 e 30 de outubro.
Fonte: G1