Oakland, CA (BDCi) — Imagine um mundo onde cada MC que precisa de apoio psicológico, poder escrever rimas junto com um profissional de saúde mental. Os artistas podem conversar com uma terapeuta para criar suas letras de hip-hop a fim de explorar a profundidade emocional de suas palavras.
Essa é a ideia por trás do Hip Hop Therapy Global Institute, uma organização fundada pelo empreendedor social da Bay Area Tomás Alvarez III.
Hip-Hop como terapia
Alvarez começou a desenvolver a terapia de hip-hop na organização Oakland Youth-Outreach Organization Beats Rhymes and Life, que ele co-fundou em 2004. O objetivo da organização é de abordar a história pessoal dos profissionais de saúde mental e das vidas dos jovens desfavorecidos que eles tratam. A terapia de hip-hop incentiva o compartilhamento de seus sentimentos e experiências através do rap.
O gênero em si tem surgido como um refúgio dos estigmas da comunidade negra sobre saúde mental. De acordo com o NAMI (National Alliance on Mental Illness), “apenas cerca de um quarto dos africanos-americanos procuram cuidados de saúde mental, em comparação com 40 por cento dos brancos.”
Na América, a negritude historicamente exigiu uma certa quantidade de indestrutibilidade, devido a escravidão, segregação e outros entraves ao tratamento como a falta de acesso aos cuidados básicos de saúde. Nesse contexto, procurar tratamento com um profissional de saúde mental era visto como um sinal inaceitável de fraqueza. Mais recentemente, as declarações de saúde mental sem rodeios nas letras de hip-hop começaram a reivindicar um direito igual de bem-estar.
Projetos para o futuro
Ian Levy, que tem um programa de terapia de hip-hop em New Visions Charter High School, cita o exemplo de Kid Cudi, que anunciou publicamente sua decisão de entrar em reabilitação para a depressão e pensamentos suicidas no ano passado. Em uma letra de música, ele diz, ‘a lua irá iluminar meu quarto e logo serei levado pelo meu destino. É uma letra onde ele destaca pensamentos e sentimentos de depressão e ansiedade.”
Um número crescente de artistas de hip-hop estão procurando discutir seus problemas de saúde mental. No início deste mês, Chance the Rapper revelou seu problema de ansiedade, que ele acredita ter sido desencadeada por perder amigos de infância, na violenta cidade de Chicago. “Há muito tempo isso não era uma coisa que nós falávamos.”, diz ele.
Em seu álbum recém-lançado, Big Sean confessa, “Vozes na minha cabeça dizem que eu poderia fazer sempre melhor”, o que soa muito como uma mente deprimida. Lil Wayne, no seu mais recente álbum, diz que “quando eu tentei o suicídio, eu não morri.” No Twitter, o rapper Isaías Rashad costumava escrever sobre sua internação para reabilitação e sobre sua luta pela saúde mental.
Mesmo quando a depressão e a ansiedade não são mencionados diretamente nas letras de hip-hop, sua presença pode ser ouvida. Comprimidos e maconha estão nas letras de hip-hop, muitas vezes como uma forma de auto-medicação.
“É difícil viver sem algo,” diz a MC Ill Camille. “Eu não sou alcoólatra e não fumo, mas sou hipersensível e exposta a diferentes personalidades. Há muita rejeição diariamente e as questões financeiras vêm juntas. Comprometer-se a fazer arte, é algo difícil de se lidar.”
Ill Camille usa a Hip Hop Therapy nas letras de suas músicas. Foto cortesia Van Exe
Na sua música, Camille não tem medo de explorar períodos escuros de sua vida. Em seu novo álbum, há uma canção que explica o porquê dos amigos de Camille e sua família não a vêem há um tempo.
“Houve muita perda. Não só a do meu pai, da minha avó também. Ela morreu dois meses antes. E então no dia do funeral do meu pai, meu tio Sammy também faleceu. Foi assim essa merda toda. Tive insônia e não tive o apoio de meu companheiro da época.” acrescentou a artista.
“Alguns dias” foi uma das primeiras canções que ela escreveu quando a tristeza minou sua criatividade.
Camille acreditava que usar um profissional de saúde mental ” era apenas algo que as pessoas negras não faziam” até que os benefícios do tratamento tornou-se inegável. “Eu vi o impacto positivo que teve sobre as pessoas, não só nos artistas, mas nas pessoas ao redor e como isso as ajudou a mudarem suas perspectivas.”
Mas a terapia de hip-hop pode não ser adequada para pessoas muito incapacitadas por depressão e traumas para gravarem uma música. “Você não pode sempre recorrer a colocar muito conteúdo pesado nas canções. Em situações como esta, de muita crise, os cuidados e a terapia tradicional podem ser mais apropriados.
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