O clima quente e as atividades típicas do período de férias promovem, nesta época do ano, um aumento de casos de hipertermia, diarreia, micose, queimaduras por sol e até lesões ortopédicas. Especialistas ouvidos pelo G1 relatam quais são os problemas de saúde mais comuns do verão e orientam sobre a melhor forma de lidar com eles.
Infecções alimentares
Com o aumento da temperatura, aumentam também as infecções alimentares, segundo o infectologista Jessé Reis Alves, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Viagem (SBMV). As principais culpadas são as bactérias, que se desenvolvem com mais facilidade nos alimentos em climas quentes.
“As gastroenterites, principalmente bacterianas, são mais comuns no verão. As pessoas vão mais à praia e a lugares que nem sempre têm saneamento adequado. Existe contato com água contaminada, os alimentos são preparados sem tantos cuidados”, diz Alves. Os sintomas são principalmente diarreia e vômito.
Ele orienta ter cuidado especial com alimentos à base de ovos, pois eles podem se adulterar mais rapidamente. Outras dicas são evitar alimentos crus e mal cozidos e beber água mineral engarrafada. Segundo Alves, os quadros de diarreia geralmente duram dois ou três dias, período no qual o paciente deve fazer uma hidratação adequada e ingerir alimentos mais leves. “Se aparecerem sinais de gravidade, como diarreia com febre, ou sangue nas fezes, é preciso procurar atenção médica imediata.”
Queimadura solar
Segundo com o dermatologista Marcus Maia, coordenador do Programa Nacional de Controle do Câncer de Pele, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a exposição desprotegida ao sol pode provocar queimaduras de diferentes intensidades. O primeiro estágio é a vermelhidão. O segundo é quando a vermelhidão é acompanhada de inchaço. O terceiro é quando, além de vermelhidão e inchaço, há a presença de bolhas.
“De acordo com a gravidade, a pessoa deve procurar um serviço médico. Felizmente, o que se percebe é que as pessoas não chegam a cometer esse exagero, a cultura de proteção solar já é bastante arraigada”, diz Maia.
Para prevenir o problema é preciso evitar a exposição ao sol entre 10h e 15h e usar protetor solar com fator de proteção de, no mínimo, 30. Outras estratégias são procurar ficar na sombra e usar chapéu ou boné.
Bicho geográfico e bicho-de-pé na areia
A areia da praia, quando contaminada por fezes de cachorro, pode conter o bicho geográfico. Trata-se de um parasita que, quando em contato com o humano, manifesta-se por uma bolinha vermelha geralmente localizada na região da planta do pé. “Isso coça violentamente e, de repente, essas bolinhas começam a andar, formando um caminho linear”, diz Maia.
O especialista afirma que o bicho-do-pé também é uma possibilidade principalmente em praias mais desertas, quando há criação de porco nas proximidades da areia. Nesses casos, segundo Maia, o melhor a se fazer é procurar um serviço de saúde.
Além disso, segundo Maia, o excesso de calor reduz a resistência do organismo. “Por isso é comum que o indivíduo que está na praia tenha mais facilidade de desenvolver herpes, micoses e outras infecções de pele”, diz. Segundo ele, os agentes causadores desses problemas podem até já estar no organismo do maneira inativa, mas, com o calor, o problema se exacerba.
Lesões ortopédicas em ‘atletas de fim de semana’
Segundo o ortopedista e traumatologista Mauro Dinato, do Instituto Vita, durante as férias de verão é comum aparecerem nos consultórios pacientes com lesões por praticar atividades físicas com as quais não estão acostumados. “As pessoas ficam muito tempo paradas e, nas férias, resolvem começar a caminhar, correr ou jogar bola”, diz. São observadas tanto lesões por sobrecarga quanto rupturas agudas por traumas. Pés e joelhos costumam ser os mais afetados.
No caso de pessoas sedentárias que pretendem andar longos percursos durante uma viagem, por exemplo, Dinato sugere fazer uma programação que alterne programas mais ativos com períodos de descanso. “Se, no final do dia, a pessoa estiver com dor no pé ou no joelho, é indicado pôr os pés para cima e fazer uma compressa com gelo”, diz. Tênis e meias adequados para a caminhada também são essenciais.
O ritmo da caminhada também deve ser controlado. “Procure não começar andando rápido. No início, ande mais devagar para ir esquentando, ativando a musculatura e aumentando o fluxo sanguíneo do coração.”
Hipertermia nos idosos
A hipertermia – que ocorre quando a temperatura do organismo se eleva devido ao calor do ambiente – é um problema principalmente para os idosos. De acordo com o médico Rubens de Fraga Júnior, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o processo de envelhecimento reduz a habilidade do corpo em perder calor.
O suor, uma das formas de dispersar o calor corporal, é menos intenso no idoso devido à redução das glândulas sudoríparas. Além disso, ele tende a ingerir menos líquido, pois sofre alterações na sensibilidade dos centros neuromoduladores que proporcionam a sensação de sede. O resultado é uma maior suscetibilidade à hipertermia, caracterizada por uma temperatura acima de 37,5 graus célsius, cólicas abdominais, ânsia de vômito, câimbras. O quadro pode evoluir para sintomas neurológicos, desde irritabilidade até alucinações, podendo ocasionar convulsões e até coma.
Para prevenir essa situação, é importante ingerir bastante líquido para garantir a hidratação e evitar a exposição direta ao sol, procurando abrigo em lugares cobertos e arejados. Vestir-se com roupas leves e de cores claras, de preferência de algodão, evitar atividades extenuantes e usar protetor solar também são medidas preventivas.
Alergias e infecções respiratórias por ar condicionado
Apesar de proporcionar alívio contra o calor excessivo, o ar condicionado demanda alguns cuidados, segundo Fraga Júnior. “O ar condicionado tira muito a umidade do ambiente, ressecando as vias aéreas superiores”, diz. Esse ressecamento aumenta as chances de infecções respiratórias. Para lidar com o ar seco, uma dica é manter uma bacia com um pouco de água no ambiente ou uma toalha molhada. Um umidificador de ar também pode resolver o problema.
Segundo o especialista, a temperatura escolhida deve ser amena, e não fria demais, para evitar choques térmicos. Uma pesquisa feita pela USP em 2006 revelou que os choques térmicos são os principais responsáveis por crises alérgicas em pessoas que passam longos períodos em ambientes climatizados.
Também é preciso fazer uma manutenção periódica do aparelho para evitar o acúmulo de fungos e bactérias que podem trazer doenças.
Fonte: G1