“Livre” (Wild / Estados Unidos, 2014)
Nota: 9
Direção: Jean-Marc Vallée
Elenco: Reese Witherspoon, Laura Dern, Gaby Hoffmann
Mais do que aventureira, Cheryl Strayed pode ser considerada uma mulher de fibra, corajosa, cuja tenacidade chega a ultrapassar os limites do bom senso. Numa exaustiva caminhada de três meses pela costa americana, indo da fronteira com o México ao Canadá, Cheryl percorre, a passos lentos, quase dois mil kilômetros. Uma verdadeira papa-léguas.
O filme narra as lembranças da andarilha em questão que, caminha rumo ao autoconhecimento e autotransformação interna, deixando pra trás toda uma vida de caminhos desvirtuados pelas drogas, promiscuidade e maus tratos à sua alegre mãe, recém falecida.
O diretor Jean-Marc Vallée – o mesmo de “Clube de Compras Dallas” – firma-se como um dos mais talentosos da atualidade e excelente diretor de atores. Sua narrativa avança de mãos dadas com diversos flashbacks fora do lugar comum e altamente inteligentes e ilustrativos.
Não à toa, Reese Whitherspoon e Laura Dern foram merecidamente indicadas ao Oscar, como atriz e atriz coadjuvante, respectivamente. Laura Dern nunca esteve tão sorridente em filme algum e, sua composição sensível revela uma discreta melancolia no olhar.
Reese Whitherspoon nos conquista desde a primeira e incômoda cena ao arrancar uma unha do pé machucado. Com garra de uma atleta maratonista, Reese carrega não somente uma pesada mochila nas costas, mas também, o filme todo. Ao longo da projeção, a vemos vulnerável, frágil, destemida, valente, drogada, enraivecida e sexualmente desenibida, demonstrando um retorno digno de premiações.
Com fotografia e trilha sonora condizentes com as paisagens, merecia maior reconhecimento nas indicações, no mínimo, edição, direção e filme deveriam estar entre os nomeados.
“Livre” é um filme com silêncios audíveis que nos impulsiona a percorrermos as trilhas pouco exploradas das nossas consciências.