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Por paixão ao futebol e causas sociais, viajantes rodam o país da Copa

do Uol

Alguns viajam apenas como forma de locomoção para assistir aos jogos da Copa do Mundo. Outros veem a competição mundial como uma motivação para cair na estrada e juntar duas paixões numa tacada só.

Esse é o caso de viajantes que estão percorrendo as cidades-sede de formas inusitadas e relatando suas aventuras em diários de bordo na internet.

Há os que viajam em grupos de amigos, os que seguem sozinhos e colecionam amigos por onde passam. Alguns que vão de Kombi, de bicicleta ou até mesmo a pé.
Como se isso já não fosse legal o bastante, tem os que aproveitam a viagem para apoiar causas sociais. Conheça e inspire-se com as histórias.

Run, Carlos, Run
“Torça por ele, corra por elas” é o slogan do Desafio 12 horas – 12 capitais, do ultramaratonista Carlos Dias, de São Bernardo do Campo. Em parceria com o GRAAC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), o atleta irá correr durante a Copa do Mundo em parques e pontos turísticos das doze cidades-sede por 12 horas seguidas.

O projeto conta com a participação de corredores para ajudar a arrecadar fundos para a instituição. Quem quiser colaborar, basta comprar uma camiseta e correr junto com o Carlos – não necessariamente as 12 horas, mas o quanto puder ou quiser.

Ele já correu na Avenida Paulista, em São Paulo, na orla do rio Guaíba, em Porto Alegre e em outros pontos turísticos das capitais. “Estou me integrando com gente do mundo inteiro e sentindo o clima da Copa, é uma experiência única”, comemora Carlos, que vai encerrar a maratona no dia 13 de julho no Rio de Janeiro, correndo da meia-noite ao meio-dia.

Divulgação

O ultramaratonista Carlos Dias faz o Desafio 12 horas

Não é a primeira vez que Carlos viaja para correr. Em sua carreira, já passou por cenários inóspitos como os desertos do Atacama, de Gobi e do Saara. Porém, sua maior motivação para embarcar nessas aventuras é unir a paixão pelo esporte com uma boa causa. “Você tem duas opções: reclamar do país e criticar tudo, ou fazer a sua parte e convidar as pessoas a ter uma atitude mais coletiva”, comenta Carlos.

Saiba mais: www.carlosdiasultra.com.br

Gentileza holandesa
Ben Oude Kamphuis parece mais uma versão psicodélica do profeta Gentileza (figura famosa do Rio de Janeiro) do que um fervoroso torcedor de futebol. Com cabelos brancos e longos, terno e acessórios laranja, o holandês está percorrendo o Brasil com uma caminhonete de 1955 toda colorida e estilizada chamada Nellie.

Há cinco meses, ele partiu de San Francisco, nos Estados Unidos, e veio até o Brasil para assistir aos jogos da Holanda, seu país de origem, passando por 13 países ao longo do caminho. Além de conhecer pessoas e curtir a Copa do Mundo de perto, Ben aproveita a viagem para propagar uma importante mensagem: “Diga não ao racismo!”, escrita na lataria do automóvel e sempre presente em seus discursos.

Vagner Vargas/Portal da Copa

Holandês Ben Oude e Nellie, sua caminhonete, na frente da Arena Fonte Nova

“Não consigo entender as pessoas que se vêem diferentes. Brasileiros e holandeses são iguais, nós falamos diferente, vivemos em lugares diferentes, mas somos iguais. Nós precisamos das mesmas coisas. Não entendo o ódio e a discriminação, seja qual for o motivo”, defende o holandês, que trabalha com crianças deficientes há 30 anos.

A ideia de fazer essa viagem veio em 2010, na final entre Espanha e Holanda na Copa da África do Sul, quando os espanhóis se consagraram campeões. “Três vezes a Holanda esteve na final da Copa e mais uma vez eu chorei. Meu carro estava todo decorado para a Copa da África do Sul e eu falei para o meu filho que em 2014 eu iria dirigindo a Nellie para o Brasil”, contou. Promessa cumprida, agora resta torcer e seguir viagem.

Sobre Rodas
A bordo de um Uno amarelo, os jornalistas Giuliano Giovanetti e Paulo Fabião, de São Paulo, resolveram cair na estrada para aproveitar a Copa e assistir aos jogos. Para isso, bolaram o projeto Copa Sobre Rodas. Eles estão visitando cidades-sede e outros destinos no caminho, como Maceió, em Alagoas, onde foram ao estádio Rei Pelé, centro de treinamento da seleção de Gana.

O termo “sobre rodas” não se refere apenas ao tipo de viagem que estão fazendo, mas também ao fato de Paulo Fabião ser cadeirante. Segundo eles, isso “não é um obstáculo, mas talvez apenas mais um fator nesta experiência”, que está sendo relatada com muito bom humor no blog do projeto. Em um dos posts, por exemplo, Paulo descreve sua hilária experiência como “apreciador de bundas femininas” em Salvador – já que seu “campo de visão fica na altura da cintura das mulheres”.

Divulgação

Os jornalistas Giuliano Giovanetti e Paulo Fabião visitam o estádio Rei Pelé

Apesar de ter vivido perrengues como chegar ao hotel e não ter elevador para o quarto, a dupla testou e aprovou a acessibilidade de alguns estádios e a simpatia dos torcedores. “As pessoas se preocupam em ajudar. Em uma festa no Pelourinho, por exemplo, estava lotado e colocaram a gente ao lado do Olodum”, conta Giuliano.

Paradas em praias, festas e botecos fazem parte do roteiro dos amigos, que vão curtir também as festas juninas do Nordeste – além dos jogos, é claro. Eles tiveram a sorte de presenciar os massacres da Holanda contra a Espanha (5×1) e da Alemanha contra Portugal (4×0) na Arena Fonte Nova.

Saiba mais: http://copasobrerodas.com.br

Uma bola pelo mundo
De todos os viajantes dessa Copa, o mais inusitado não é uma pessoa, mas uma bola. Desde 2002 nas mãos (e nos pés) de voluntários do Spirit of Football, a mesma bola visita comunidades e escolas ao redor do mundo, onde o futebol é utilizado para educar crianças e jovens.

Andrew Aris, diretor da organização, aposta no futebol como uma forma de conectar pessoas. A Bola serve como um símbolo de todos os conceitos positivos que os voluntários pretendem trabalhar. “É possível ensinar geografia contando por onde a Bola passou, história ao contar a história do esporte, cultura etc”, explica Andrew, que é o responsável pela Bola durante sua jornada pelo Brasil.

Divulgação/Spirit of Football

A Bola já conta com mais de 18 mil assinaturas

A Bola é usada em partidas com os educadores e os participantes e já foi chutada por monges, sem-tetos, detentos, crianças carentes, jogadores profissionais e autoridades. Todos que jogam e dão uma cabeceada na Bola (ritual estabelecido pelos organizadores) podem deixar sua assinatura, que já acumula mais de 18 mil nomes.

Nenhuma inscrição foi apagada até hoje, mas uma acaba ficando sobre a outra. “Um dia o presidente de Honduras assinou a Bola e minutos depois ela foi utilizada por crianças em uma partida. Elas também colocaram seus nomes ali. No fim, você só tem uma única grande assinatura, pois todas que compõem a Bola são importantes”, esclarece Andrew.

As viagens tiveram início no Battersea Park em Londres, onde aconteceu a primeira partida de futebol em 9 de janeiro de 1864. De lá para cá, a Bola segue rumo aos países que sediam as Copas: já visitou a Coreia do Sul e o Japão (2002), a Alemanha (2006), a África do Sul (2010) e agora chega ao Brasil, em seu quarto mundial. Nos intervalos entre os campeonatos, a missão continua na forma de um projeto educacional One Ball, One World, em outras localidades.

Saiba mais: www.sof2014.com.br

Na Kombi
Companheiros de pelada, um grupo de amigos de Caxias do Sul (RS) começou a planejar uma viagem durante a Copa do Mundo há dois anos. Pensando em economizar e conhecer o maior número possível de lugares, eles decidiram viajar por terra. Para comportar os oito rapazes, um deles teve a ideia de viajar de Kombi. “Além do espaço, é um veículo que traduz o espírito aventureiro”, diz Leomar Lima, um dos integrantes.

Divulgação

A bordo de uma Kombi de 1994, amigos de Caxias do Sul (RS) foram até Salvador

De lá para cá, sobraram cinco dispostos a encarar a empreitada. A bordo de uma Kombi de 1994, Rodrigo Rocha, Rogério Poletto, Cesar Gregoletto, André Susin e Leomar deram início à viagem no dia 18 de junho rumo a Salvador, onde assistiram Irã x Bósnia-Herzegóvina na Arena Fonte Nova no dia 25 de junho.

Esta foi a única partida que os cinco amigos conseguiram ver em toda a Copa dentro de um estádio. “Foi um pouco frustrante não conseguir comprar mais ingressos, mas estamos nos divertindo muito. A ideia é curtir a viagem, ver a Copa e sentir o clima de perto. Ainda estamos tentando comprar, mas está difícil”, admite Leomar.

Para compensar, estão assistindo as partidas nas Fan Fests e em outros pontos turísticos. Nas horas vagas, aproveitam para surfar e fazer amizades – o que tem sido frequente, já que a Kombi, adesivada em verde, amarelo e azul, tem chamado a atenção por onde passa.

Saiba mais: www.kombidacopa.com.br

De bike
Também em nome de uma causa nobre, o ciclista inglês Hugh Thompson percorre o mundo com o projeto Ride to Rio. Ele partiu de Londres em julho de 2013 e já pedalou por 25 países na Europa, África, Ásia, Oceania e América do Sul. Como já diz o nome da empreitada, o destino final é o Rio de Janeiro, no dia 30 de junho, no auge da Copa do Mundo.

Ride2Rio/Divulgação

O ciclista inglês Hugh Thompson percorre o mundo ensinando futebol a crianças

A ideia é arrecadar dinheiro para a Tackleafrica, instituição de caridade que promove programas educacionais sobre o HIV por meio do futebol. Entre uma partida e outra, Hugh e outros voluntários dão palestras sobre educação sexual, relacionamentos e explicam a doença para comunidades pelo mundo.

Torcedor do time inglês Newcastle, Hugh está no Brasil pela primeira vez, se hospedou em casa de famílias que conheceu aqui e tem tido uma experiência incrível. “Amei cada minuto, conheci pessoas sensacionais e que apoiaram muito minha viagem”.

Ao entrar em contato com pessoas tão diversas, Hugh diz que a simplicidade foi o grande aprendizado de sua jornada. “Muitas pessoas vivem com muito pouco no mundo e estão muito satisfeitas. Os que menos têm são os que geralmente têm mais a oferecer”, conclui, depois de dizer que em sua mala só carrega duas camisetas, dois shorts, uma barraca e um saco de dormir e que consegue se virar com £ 10 (cerca de R$ 40) por dia.

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