Países do Mercosul começaram a isolar o novo governo do Paraguai que assumiu na sexta-feira (22/06) após um processo de impeachment meteórico que destituiu do cargo Fernando Lugo e deu posse ao vice, Frederico Franco.
Neste domingo (24), a chancelaria argentina, que ocupa a presidência transitória do Mercosul, conforme texto publicado em sua página na internet, informou que o governo de Cristina Kirchner decidiu “suspender o Paraguai, de forma imediata, do direito de participar da XLIII Reunião do Conselho do Mercado Comum e Reunião de Cúpula de Presidentes do Mercosul, bem como das reuniões preparatórias”.
Não foi uma iniciativa isolada. No sábado (23/6), a presidente Dilma Rousseff condenou a destituição de Lugo e classificou seu impeachment com um processo de “rito sumário”. Em resposta à decisão do Congresso paraguaio de cassar um presidele eleito, o embaixador brasileiro no país, Eduardo Santos, foi convocado para prestar esclarecimentos. No mundo diplomático, “convocar um embaixador” sinaliza uma situação, no mínimo, de preocupação e desagrado.
Os governos da Argentina, do Uruguai, da Venezuela, da Bolívia, e da Colômbia fizeram o mesmo. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, foi além e determinou a interrupção do fornecimento de petróleo ao Paraguai.
Apesar de condenar abertamente o processo de afastamento de Lugo, o governo brasileiro, através do assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, descartou a possibilidade de o Brasil e os demais países do Mercosul intervirem em questões internas do Paraguai.
Na reunião de de cúpula do Mercosul, em Mendoza, na Argentina, no próximo final de semana, a presidência temporária do bloco passará, por seis meses, para as mãos de Dilma Rousseff. A pauta principal da reunião deverá ser o impeachment de Lugo.
Processo relâmpago destitui Lugo da presidência
No dia 15 de junho, um confronto entre policiais e sem-terra em uma área rural de Curaguaty, dominada por opositores de Lugo, terminou com 17 mortes. O episódio desencadeou uma crise no Paraguai, na qual o então foi responsabilizado pelo ocorrido e terminou isolado politicamente.
Seis dias depois, a Câmara dos Deputados aprovou de modo quase unânime (73 votos a 1) o pedido de impeachment do presidente. A votação foi na quinta-feira (22) pela manhã e à tarde o Senado abriu oficialmente o processo para “julgar” o então presidente, na tarfde do dia seguinte, garantindo apenas duas horas para seus advogados se manifestarem. O resultado da votação era o que já se previa na véspera: por 39 votos a 4 o presidente foi destituído.
A rapidez do processo, a falta de firmeza nas acusações e a quase inexistente chance de defesa do acusado provocaram uma onda de críticas entre as lideranças latino-americanas. Lugo, por sua vez, não esboçou resistência e se despediu do poder com um discurso emotivo. Em poucos instantes, Franco, seu vice, foi ovacionado e empossado. Ele discursou a um Congresso lotado, pedindo união ao povo paraguaio – enquanto nas ruas manifestantes entravam em confronto com a polícia -, e compreensão aos vizinhos latinos, que questionam a legitimidade do ocorrido em Assunção.
Por Caio de Menezes
Fonte: Jornal do Brasil