A rádio corredor é uma ferramenta poderosa existente nas grandes organizações, e através dela criam-se estruturas, cargos, perfis e boatos.
Conheci há algum tempo atrás uma palavra muito interessante chamada “passaralho”, termo mais usado nas regiões Norte e Nordeste sarcasticamente para o impiedoso pássaro cortador de cabeças . Este ser ludicamente criado, algumas vezes surge com vôos rasantes e devasta áreas e causa pânico.
O passaralho tem como principal função fazer o PNB, e quando acionado faz com maestria sua função.
A rádio corredor que é a ferramenta mais rápida e catalisadora de boatos, pré anuncia a chegada do passaralho.
Meses antes da chegada do passaralho, as grandes redes internas, criam suas estratégias de proteção. Essas redes são privilegiadas e consegue ter algumas informações antecipadas, o que evita serem capturados pelo vôo rasante do passaralho.
Alguns sinais começam a surgir no piso, e os profissionais iniciam alguns movimentos protecionistas. Isso geralmente ocorre com profissionais que não estão ligados a algum grupo ou rede e depende única e exclusivamente de sua competência e seus contatos.
A área que mais detém informações sobre a chegada do passaralho, inicia o processo de operacionalização para que o vôo não devaste totalmente a terra. Recursos Humanos, que tem o papel de garantir o ambiente sadio de trabalho, tem uma importante função neste momento, pois é necessário no mínimo uma forma orientada de gestão de pessoas, já que o passaralho executa a sua função sem piedade.
RH tenta transformar a visita do passaralho em algo tranqüilo e ameno. Todos estes movimentos são difundidos pela rádio corredor, que através de boletins mantém a comunidade organizacional preparada para o ataque do passaralho.
Com isso, alguns profissionais deixam a comunidade organizacional antes do ataque e evitam serem capturados. Outros se escondem em comunidades mais fortes se protegendo do passaralho.
Agora, a grande maioria não consegue se realocar e tem que esperar no seu canto. Esta espera dependendo do perfil do profissional varia muito com relação aos boatos.
Os receptores de boatos acreditam e ficam tensos sem saber o que fazer.
Os criadores de boatos, lançam boatos que na maioria das vezes são orientados pelos grupos que detém informações privilegiadas. O problema destes boatos é que grande partes deles são criados pelos grupos dominantes para que se tornem realidade ou para mudar situações que atrapalham suas estratégias.
Os passadores de boatos colocam na rede os boletins para difundir na comunidade.
Tudo isso ocorre rapidamente e se espalha por toda organização.
Naturalmente os boatos não conseguem dominar toda a organização, mas boa parte é infectada por este vírus e fica literalmente doente.
Os sintomas são de fácil percepção: ansiedade, baixa produtividade e evasão. A doença às vezes vira epidemia, e atrapalha o desenvolvimento organizacional. Os resultados ficam em risco, e estes sinais são alerta para o ”board” que precisa rapidamente atuar com relação ao uso do passaralho naquele momento.
Não fazer parte de uma rede, ou não ter a informação sobre decisões estratégicas sem ter a responsabilidade ou fazer parte desta decisão é a melhor posição neste momento.
A Santa Ignorância realmente é santa, pois nos protege de saber de decisões ou movimentos que não temos como mudar ou influenciar. Ficar imaginando o que será que vai acontecer só cria situações desfavoráveis para nós mesmos.
Rapidamente conte nos dedos quantos colegas que conhecemos fica em função de boatos o dia inteiro? Contou? Faltou dedo? Preocupante, pois a sua organização passa boa parte do tempo gerenciando boatos.
As decisões tomadas de forma incorreta e desordenadas nas organizações são comuns no ambiente corporativo. A geração de boatos sendo predominante significa que falta direcionamento estratégico na organização para conduzir os profissionais que sem saber o que a empresa espera deles acredita nos boatos.
Agora o mais importante é: o que existe por trás de um boato? Se a empresa está sem direcionamento organizacional e precisa acionar o passaralho significa que também toma decisão por boatos? O mesmo boato que ocasiona improdutividade por deixar parte da comunidade organizacional em alerta e preocupada com as decisões que desconhece. A comunidade cria o que não existe e o boato se transforma em verdade, que passa a direcionar a organização.
Volto a Santa, santíssima ignorância… Como nesta hora ela é realmente santa, pois se não sei e desconheço não imagino ou crio.
Não é fácil dirigir uma organização. Se o resultado não vem, com certeza o boato e o passaralho são predominantes.
Se o boato predomina é porque acreditamos nele.
E você, já se viu ansiosa ou sofrendo por causa de um boato?
Uma ótima semana,
Yeda Brandi