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Novas formas de meditar

A modelo mais bem paga do mundo acorda às 5h30. Esse é o momento do dia  encontrado pela supermodelo brasileira Gisele Bündchen, de 34 anos, para se dedicar a uma prática que considera indispensável: meditar. Gisele se senta de maneira confortável numa almofada no chão, fecha os olhos e se concentra por 20 minutos. O objetivo é esvaziar a mente se preparar para o dia que a espera. “Prefiro meditar do que dormir mais 20 minutos”, diz Gisele, que encontrou na alvorada do dia – antes de os filhos Benjamin, de 4 anos, e Vivian, de 1 ano e 9 meses, acordarem -, a chance de limpar a mente. “O sacrifício compensa: estou mais calma. Agora, consigo parar, respirar e observar a situação antes de agir. Tomo decisões menos impulsivas, mais conscientes e, consequentemente, consigo me expressar melhor”, diz Gisele (leia o depoimento completo).

Pessoas como Gisele, que exercem as mais variadas – e agitadas – profissões e partilham das mais diferenças crenças, estão descobrindo que a meditação não é um hábito impossível de ser incorporado ao dia a dia corrido. Muito menos uma prática que está necessariamente vinculada a uma religião. Nos últimos anos, a ciência traçou o mais completo retrato dos benefícios da meditação para a saúde da mente e do corpo. Acabou transformando técnicas milenares orientais, em toda sua ampla gama de modalidades, num exercício mental atraente para qualquer ocidental – até os mais céticos.  “A meditação é um método que pode ser verificado cientificamente e que ajuda a mente das pessoas a funcionar melhor”, diz o consultor britânico Michael Chaskalson. Ele é um dos pioneiros em levar a meditação para uma fronteira até então considerada impensável para a prática: as baias das empresas. Hoje, muitas organizações já usam a técnica para afiar as habilidades de raciocínio de seus funcionários e para melhorar a produtividade (leia reportagem em ÉPOCA desta semana).

O ator Caio Blat, no Rio de Janeiro. Ele descobriu que a concentração da meditação pode ser aplicada a todas atividades (Foto: Stefano Martini/ÉPOCA)

Quem vê o ator Caio Blat, de 34 anos, caminhando não imagina que ele possa estar meditando. Blat sempre se interessou por filosofias orientais, como o taoísmo e o budismo. Elas se baseiam em práticas contemplativas milenares, destinadas a acalmar a mente e, quem sabe, levá-la à iluminação. Mas foi só recentemente que Blat percebeu que poderia meditar todos os dias, sem que isso exigisse um ritual complexo. Antes de dar vida a seu personagem atual, José Pedro, o filho ganancioso do Comendador na novela “Império”, Blat foi um Lama em “Joia Rara”, exibida entre 2013 e 2014. Para interpretar o papel, o ator  teve de estudar a fundo o budismo e suas práticas meditativas. Descobriu que, para entrar em conexão com ele mesmo, não é necessário conhecer técnicas complicadas. Muitas vezes, basta prestar atenção à respiração. “A meditação é um estado de consciência plena que pode ser mantido em qualquer atividade que fazemos”, afirma Blat, que se sente relaxado após a prática para estar atento às pessoas e aos acontecimentos ao seu redor. “O desafio é fazer qualquer atividade com atenção plena, como comer, tomar banho, cuidar do jardim. Quando fazemos aquilo que amamos com todo corpo e toda atenção, estamos meditando”, diz. “A mente entre em silêncio naturalmente.”

>> Caio Blat: “Toda atividade é uma forma de meditação”

Alguns dos indícios mais concretos das transformações físicas promovidas pela meditação estão na área da saúde. Ela conquistou os médicos e passou a ser usada nos hospitais mais modernos como complemento de tratamentos convencionais. “Os benefícios vão da melhora de quadros de ansiedade e estresse crônico à ajuda no tratamento de doenças cardiovasculares, como a hipertensão”, diz o clínico geral Marcelo Demarzo, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo. Ele estuda as aplicações da prática milenar na saúde.

As técnicas de meditação se mostraram capazes de dar conta até dos ambientes de maior pressão, como zonas de guerra. Num estudo feito pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, elas foram usadas por fuzileiros navais americanos semanas antes de eles passarem por uma simulação de batalha. Aqueles que tinham passado pelo treinamento mental não ficaram necessariamente mais calmos durante a luta do que os fuzileiros que não aprenderam a meditar. Mas o organismo deles apresentava menos sinais típicos de estresse, como os hormônios liberados em situações de pressão. Isso significa que eles se recuperavam com mais rapidez de uma situação de conflito, uma grande vantagem nos embates militares – e também cotidianos. “A meditação é um treino psicológico”, diz a psicóloga Carolina Menezes, que estudou o tema em sua tese de doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Ela desenvolve a habilidade de regular a atenção de forma a não nos deixar suscetíveis a enxurrada de sensações e emoções a que estamos sempre expostos.”

Até os benefícios mais abstratos da meditação estão sendo desvendados pela ciência. Efeitos como estimular a compaixão entre as pessoas, muito enfatizados pelas religiões, ganharam comprovação recentemente. Num estudo do psicólogo americano David DeSteno, pesquisador da Northeastern University, praticantes de meditação percebiam com mais frequência que havia uma pessoa com o pé quebrado na sala e que, sim, talvez ela precisasse daquele lugar em que eles estavam sentados. Entre os meditadores, 50% cederam o lugar enquanto apenas 16% dos não-praticantes fizeram o mesmo.“A meditação aumenta nossa empatia, construindo laços sociais e de apoio”, diz DeSteno. Os pesquisadores ainda não sabem explicar com clareza qual alteração biológica suscitada pela meditação pode trazer esse tipo de benefício. É possível que a justificativa recaia sobre a inclinação da prática para afiar nossa capacidade de prestar atenção (inclusive, nos sentimentos alheios).

A atriz Julia Lemmertz em meditação. Ela diz que a prática ajuda a clarear a mente (Foto: Stefano Martini/ÉPOCA)

Para praticantes de anos, como a atriz Julia Lemmertz,  de 51 anos, a explicação é simples. “Na medida em que se medita regularmente, você se sente bem e consegue melhorar sua relação com tudo. É um movimento de dentro pra fora”, diz Julia, que começou a praticar meditação transcendental incentivada por amigos em 1983. A técnica foi criada na Índia, na década de 1950, pelo guru indiano Maharishi Mahesh Yogi. Ficou famosa no Ocidente graças ao interesse do quinteto britânico Beatles, no final dos anos 1960. Hoje, é uma das mais populares. O praticante usa um mantra individual, que deve ser mantido em sigilo, passado por um instrutor certificado da técnica. Em duas sessões diárias de 20 minutos, o mantra deve ser repetido mentalmente. Julia diz que gosta de meditar em casa, mas, com sua rotina agitada, já meditou até no avião. “A meditação melhora a concentração e a  qualidade do sono”, afirma Julia. “Parece que ganho mais espaço interno, como se a cada dia apagasse uma lousa toda escrita e ganhasse espaço pra escrever mais”, diz Julia.

FONTE: EPOCA

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