Do Terra
Apesar de ter tido um autógrafo negado pelo ídolo Ayrton Senna quando era ainda criança e de não esconder o quanto este episódio o incomodou, a pior recordação que Felipe Massa guarda relativa ao tricampeão do mundo não poderia ser outra, senão a vivida no dia 1º de maio de 1994, vinte anos atrás.
O menino, então com 13 anos e já iniciando sua vida no automobilismo, permanecia admirando o piloto da Williams e sentiu fortemente o baque de sua morte.
“Sempre fui um torcedor do Senna, independente do que aconteceu (no episódio do autógrafo), depois continuei torcendo pra ele”, respondeu Massa após pergunta do TotalRace. “E chorei muito quando ele morreu, não parava de chorar.
A semana inteira foi um baque, chorei não só na minha casa, como na escola, então senti muito pelo que aconteceu”, continuou o piloto, que naquela época morava no interior de São Paulo. “Quem não lembra (daquele dia), né? Difícil ter um brasileiro que não lembre.
Lembro que eu estava em Botucatu – eu morava lá – vendo a corrida e, na verdade, não foi um grande impacto quando aconteceu o acidente. Ele mexeu a cabeça e não parecia assim um acidente tão impressionante. Mas depois do acidente eu não saia da frente da televisão.
Acho que a notícia foi vindo cada vez pior e aí foi um choque. Foi um choque porque a gente tinha perdido um pedaço do Brasil”. Além do sentimento pessoal pela perda de um ídolo, Felipe também destaca o quanto a morte de Ayrton acabou deixando uma lacuna no automobilismo brasileiro. “Eu acho que o Senna teve uma influência muito grande para o esporte em geral, para o automobilismo em geral.
Ele ajudou muito o automobilismo brasileiro, a paixão dos brasileiros pelo automobilismo, sem dúvida. Ter sempre um piloto brasileiro lá em cima, elevando o nome do nosso país, sempre foi bacana. Ele representou uma imagem incrível para o Brasil, não só o Senna, mas os pilotos que a gente teve em geral. Ele foi uma força sem dúvida para o nosso automobilismo.
Talvez naquela época o automobilismo tivesse uma mentalidade melhor, a federação, o trabalho em geral no automobilismo do que tem hoje. Isto, sem dúvida, foi muito graças ao Ayrton, ao que ele era para o país, para o esporte e para automobilismo. Acho que ajudou muito naquela época, porque, quando eu comecei a correr de carro, em toda a categoria tinha um piloto brasileiro vencendo corrida, disputando campeonato.
Hoje a gente não vê mais. Ele foi muito, muito forte para o automobilismo no Brasil”, considera Massa. Mesmo assim e mesmo acompanhando a F1 desde pequeno, o atual piloto da Williams garante que não foi Ayrton quem o inspirou a correr, mas sim seu pai, Titônio Massa, que correu por muitos anos no automobilismo nacional. “Não foi o Senna que me deu a vontade de virar piloto, algo que eu olhasse ele e tivesse vontade de fazer igual, mas foi meu pai.
Na verdade, no momento em que eu andava de kart, já estava no meio da minha carreira, acho que com 13 anos por aí, o Senna já tinha até morrido. Eu queria ser piloto por causa do meu pai. Meu pai sempre foi a pessoa que eu sempre olhei, que sempre me ajudou. Eu assistia F1, mas não era a F1 que me dava a vontade. Era estar na pista, estar com meu pai, acompanhando as corridas. E depois que andei de kart a primeira vez na minha vida, eu tinha certeza que o que eu queria fazer era correr”. Sobre o episódio do autógrafo negado, Massa não nega que aquilo o chateou bastante, mas diz que valeu também como um aprendizado.
Hoje, famoso e correndo na F1, o vice-campeão de 2008 dificilmente nega autógrafo a uma criança. “Aquilo mexeu, mas mexeu demais comigo. Foi o único contato que tive com o Senna, mas foi uma experiência que eu tive. Eu senti muito pelo que aconteceu, mas acho que aprendi demais”, analisa o brasileiro que relatou o episódio ao TotalRace. “Era à noite, encontrei o Ayrton no Yatch Club de Ilhabela.
Minha família tinha uma casa em Ilhabela e a gente sempre passava as férias lá. Ele estava chegando com uma mulher, que eu nem lembro quem era. Eu devia ter uns oito, nove anos de idade. Não tinha ninguém lá e as pessoas do restaurante falaram que era o Ayrton Senna. Eu peguei um papel e uma caneta – eu e mais duas crianças – e a gente foi lá pedir um autógrafo. Mas ele não deu.
Talvez pela pessoa que estivesse com ele, ele não quisesse aparecer, não sei. Só sei que foi um dia muito difícil pra mim. Fiquei chateado porque o Ayrton, pra mim, era tipo Deus e aí você chega lá e ele não dá o autógrafo. Fiquei muito chateado, mas, sem dúvida, isso me fez aprender. Eu cheguei numa posição em que eu virei um piloto de F1, virei uma pessoa famosa e muitas crianças querem meu autógrafo, querem estar perto de mim.
Então é impossível você me ver não dando um autógrafo para uma criança, principalmente para uma criança. Claro que tem momentos em que a gente está na correria, está trabalhando, mas aquele momento me fez aprender demais”, conta o piloto.