Fred ainda tenta dar fim ao jejum de pouco mais de seis meses sem fazer gol, mas pelo menos quebrou o silêncio nesta segunda-feira. Nome mais comentado no Fluminense e na seleção brasileira nas últimas semanas, o atacante, que não concedia entrevista coletiva desde o dia 9 de janeiro, ainda antes da pré-temporada tricolor, decidiu falar. Falta de ritmo e de gols, lesões em série, expectativa pela convocação para o amistoso contra a África do Sul e Copa do Mundo foram os temas centrais das perguntas ao camisa 9. O capitão tricolor, aliás, atraiu um número maior de jornalistas ao treino nas Laranjeiras. E foi sincero: disse que o que fez na Copa das Confederações não irá garantir lugar na lista do Mundial.
– Primeiro, isso aumenta a responsabilidade, mas por outro lado me dá um pouco de mais confiança, mais vontade de fazer o que estou fazendo, dedicação dentro e fora de campo. Sei que o que fiz quando Felipão chegou foi bom para mim. Passei confiança e credibilidade para a Seleção, para vocês da imprensa. Mas a Copa das Confederações não vai assegurar minha vaga. Sei que tenho que trabalhar, evoluir, mostrar evolução aqui no Fluminense e na Seleção, para buscar essa tão sonhada vaga na Copa do Mundo, a volta dos gols, mas essa confiança que Felipão e companheiros têm é gratificante. Mas tenho que continuar nessa batalha, pois há muita água para rolar.
Antes de entrar na sala de imprensa, Fred trabalhou na academia com os demais titulares. Foi o primeiro treino da semana após a vitória de sábado, no Maracanã, sobre o Boavista, resultado que manteve a liderança do Carioca. Renato Gaúcho comandará mais uma atividade, nesta terça, em Macaé, a última antes do confronto com o time local pela nona rodada do estadual. A partida começa às 19h30m e será disputada no Moacyrzão.
Fred estará neste jogo e não quer sair tão cedo do time. Além de sequência, está faminto por gols. O último foi em 2013, em 7 de agosto, pelo Brasileirão. Depois, sofreu uma grave lesão na coxa direita e precisou de três meses de recuperação. De volta à equipe na pré-temporada deste ano, sentiu a falta de ritmo. Agora, assegura que está novamente no auge. E é assim que planeja chegar à Copa.
– Espero chegar como estou hoje, 100%. O que está faltando é o gol.
O camisa 9 negou que tenha entrado em conflito com o departamento médico do Fluminense por conta do edema muscular na coxa direita, sofrido antes do Fla-Flu. Sobre a garantia dada a ele por Felipão de que estará no Mundial, disse que trata-se de uma relação de confiança.
– Felipão sabe com quem pode contar e confiar.
Confira outros trechos da entrevista:
Evolução física
Depois do jogo de sábado, me sinto completamente em forma, com ritmo de jogo. Única coisa que falta é jogar a bola para dentro mesmo. Até falei depois do jogo: depois que a bola começar a entrar, entra de dois em dois, três em três. Está sendo bom porque a torcida está apoiando, louca para ver os gols. Equipe me ajudando, comissão técnica confiante. Em breve farei muitos gols, espero que seja na quarta-feira. Até pela evolução da equipe, que encontrou um jeito de jogar, todos os setores estão bem. Zaga segura, laterais voando, Conca desequilibrando. Daqui a pouco, com a bola chegando, vai dar tudo certo.
Recorde de vitórias do Flu (são seis consecutivas)
A gente não pensa em recorde. A gente quer é sequência. Há muito tempo não saio do jogo inteiro. Saí do jogo, todos muito bem fisicamente. Nossa equipe está muito forte fisicamente, estamos criando muito. Com isso, a equipe vai encorpando, pegando moral. Assim começam as vitórias e vai formando um grupo campeão.
Há insegurança para disputar a Copa do Mundo?
Me senti um pouco travado no meu início porque estava há muito tempo sem jogar. Treinava em campo reduzido, me sentia bem, mas no Maracanã parecia que tinha dois quilômetros de uma área para a outra. Era difícil segurar os zagueiros. Mas isso, não sinto mais. Me sinto muito bem, e a equipe está muito bem. Esse processo sabia que aconteceria. Estou brigando para antecipar a minha volta com muitos gols, com elogios, a torcida está confiante no meu trabalho de novo. Desconfiança, preocupação, não tive em momento algum. Quando estava sem jogar, em momento algum tive preocupação com isso.
Houve melhora contra o Boavista?
Me senti solto, sim. Acho que começou antes porque esse processo de dificuldade eu teria que passar. Se não passo e faço os gols, mascararia muita coisa. Tenho que elogiar o trabalho da preparação física comigo. Em alguns momentos eu tenho que treinar menos, em outros treinar mais forte. Tenho certeza que será um ano maravilhoso para a gente.
É possível ver Fred e Walter jogarem juntos?
Essa dor de cabeça é do Renato. O Walter é de muita qualidade, mesmo com suas características, ele pode desequilibrar como tem feito em poucos minutos em campo. Do nosso ataque, quem tem menos qualidade sou eu. Tem o Michael que é um garoto, mas para mim já está pronto. É o 9 de qualquer equipe do Brasil. Se colocar, vai fazer 19, 20 gols. Tem Sobis, Biro Biro, Kenedy. Walter entra e a bola procura ele. Renato sabe as características, tem um mais rápido, um mais centralizado. Walter pode jogar em qualquer lugar e com qualquer outro atacante.
O que falta para voltar a ser o velho Fred?
Gol, só gol. Saí muito satisfeito com a movimentação de sábado. Infelizmente a bola não entrou, teve o pênalti que acabei não fazendo o gol. O que me preocupa é só o gol. Preciso fazer gols, que vão me dar moral, vão ajudar minha equipe. Estou tranquilo, bem, treinando, com paz de espírito. Minha única preocupação é vir aqui, treinar bem, comer a grama e daqui a pouco está tudo normal.
Como avalia o momento da Seleção?
Houve muita evolução. Nós temos a noção, fizemos uma grande Copa das Confederações, conseguimos trazer coisas boas para a gente. Mas para ganhar a Copa é preciso muito mais.
Como foi a conversa com Parreira e o exame com Runco?
Fiz um exame na sexta, detectou um pequeno edema (coxa direita). E como tinha a convocação na terça-feira, a minha preocupação foi exatamente essa. Primeiro que meu exame foi na sexta, queria jogar no sábado, acabei sendo vetado do jogo. De repente você perde um jogo, mas pode perder um mês e meio ou dois meses fora, como foi noticiado. E acaba prejudicando o trabalho. Essa preocupação é por querer estar bem, voltando, foi logo depois do meu exame. Queria muito jogar o Fla-Flu, fiquei muito chateado, mas disseram que era melhor segurar.
Há garantia dada por Felipão de estar na Copa?
Felipão sabe com quem pode contar e confiar. E felizmente nosso grupo só tinha jogadores de personalidade, de caráter, que querem e queriam vencer. Felipão conseguiu ver, como eu consegui. Como eu passei confiança naquele momento, sei que ele confia em mim. O que quero fazer, primeiro no meu clube, é passar para minha torcida, para minha família, para vocês, que estou me dedicando muito. Quero estar bem aqui, passar a confiança no clube. Sei que tem esse carinho. Eles sabem o que posso dar, estou me dedicando ao máximo para ficar voando de novo. E quero levar isso para a Seleção. Todas as vezes que passei momentos difíceis, valeu a pena para mim. Dei a volta por cima, faz bem. Tenho certeza que vai ser assim aqui, o Renato tem dado muita moral, muita força. Tenho certeza que no fim vai dar tudo certo.
Houve algum problema com o departamento médico do Flu?
Não teve nada de ficar chateado. Respeito a decisão do departamento médico, confio. Joguei e fui vetado no sábado aqui. Então eu queria jogar, várias vezes já senti algumas dores e pedi para jogar. Em momento algum fiquei chateado, triste, magoado, ou tive qualquer problema com o departamento médico do Fluminense.
Como encara a cobrança para estar bem para a Copa?
Essa cobrança é normal. Se eu pudesse, pediria uma força para vocês. Quando a bola bate na trave, para vocês dizerem que girei bem (risos). Quando estou bem também, fazendo gols, o time é campeão, sou artilheiro, vocês me colocam para cima. Acho que o peso é igual. Quando estou mal, vocês vêm com tudo. Já estou habituado e acho que é normal.
Ficou chateado por não atuar no Fla-Flu?
Antes do Fla-Flu, tivemos dois jogos. Seria no sábado em Bangu e terça em Volta Redonda. O Alexandre (Mendes, preparador físico) fez a programação para eu me preparar. Chega na quinta, senti o músculo correndo e chutando. Aí fiz exame e deu esse negócio. É uma decepção. Mas tive tranquilidade para conduzir as coisas e entender que eu ia tomar porrada, mas que essas coisas não têm jeito. De um jeito ou de outro, não era para ter jogado (o Fla-Flu). Mas foi triste, nosso time jogou bem, ganhou bem o jogo. Clássico é o ápice do jogador no clube, a torcida gosta. Infelizmente não deu para mim. Mas já estou acostumado, passei por cima disso bem.
Qual a expectativa para o confronto com o Botafogo?
Estamos no clima para manter a liderança na quarta-feira em Macaé. E conquistando os três pontos passar por mais um clássico, dar moral, bom para tentar manter a liderança também.
E para jogar contra o Macaé?
Certeza que vai ser difícil, as equipes que temos enfrentado têm se postado bem defensivamente, bem forte. Mas no futebol carioca todas as equipes tocam a bola, saem para o jogo. Até antes de sair um gol nosso fica muito difícil. Vamos enfrentar dificuldade lá. Se der para fazer (gol) lá, vai ser maravilhoso.
Como avalia o trabalho do Fluminense neste início de 2014?
Está sendo bem feito, o Campeonato Carioca é importante. Em 2012, conseguimos ganhar e deu moral para o restante do ano. No ano passado, o Botafogo ganhou e manteve sequência no Brasileiro. Vai dar moral para a sequência, tem Copa do Brasil, Brasileiro. A equipe está crescendo dentro da competição. Temos tudo para fazer um belo ano.
Quais as condições para chegar na Copa do Mundo?
Espero chegar como estou hoje, 100%. O que está faltando é o gol. Tenho muita confiança, pois o trabalho está sendo muito bem feito aqui. Eu quero voltar a demonstrar esse trabalho todo com meus gols aqui, quero mostrar na Seleção. No fim, vai dar certo no Fluminense e na Seleção.
Você se pouparia no Flu para estar bem na Seleção?
Primeiro, só tenho a agradecer minha torcida, porque nas redes sociais, nos treinos e até quando fui substituído, foi tudo muito emocionante, porque eles entendem que estou passando por um momento difícil, onde estou batalhando cada vez mais. Entendo que eles estão loucos que nem eu para ver minha melhor forma. Quanto a estar me poupando, isso acaba sendo normal, porque às vezes tem jogador que está muito bem no clube e não vai bem na Seleção, aí chama jogador de clube. Tem jogador que falam que dá migué no clube e a vida na Seleção. Quero deixar claro para o torcedor que ele pode contar comigo. Necessito de gols e títulos, para me manter e me dar moral para viver. Para acordar bem, porque isso altera muito. Estar bem no profissional te dá mais tranquilidade e alegria no dia a dia até com a família. Essa história é só de pessoas maldosas, nunca vai existir. Dependo muito do jogo seguinte. Preciso sempre fazer gols.
E a importância do Conca?
Conca é o craque do nosso time. Ele voltou, por incrível que pareça, melhor que antes de ir para a China. Você vê como ele joga, dá a vida em campo. Essas coisas boas temos que pegar para a gente. O time está pegando. A volta do Renato, que é adorado internamente e pela torcida. A volta do Conca, que é um ídolo. Conca toda vez que pega a bola sei que uma hora ou outra vai me deixar na cara do gol. E ainda tem feito gols. Até de cabeça o baixinho tem feito gols, o que não é normal.
E o risco de novas lesões?
Qualquer jogador que tiver problema, acaba sendo natural. Vimos agora o Falcao Garcia. Olha a perda para a seleção colombiana. Isso é normal com qualquer seleção. O que jogador não pode fazer é tirar o pé e pedir ajuda a Deus. Essa pressão seria a mesma se eu tivesse cotado para a seleção em 2006.
Existe racismo no futebol?
Nos clubes que trabalhei ou jogando, nunca presenciei. Mas existe, a gente vê. Vimos o Balotelli, o Boateng. Isso está acontecendo no mundo inteiro. Não tem como aceitar. Tinga é um cara sensacional, acho que tem que ser um embaixador para dar um basta nessas coisas, nessa palhaçada. Foi muito bonito ver o Brasil manifestando apoio a ele, o mundo, os jogadores da Seleção. A gente torce para que quando acontecer esse tipo de coisa horrível, que os culpados sejam punidos severamente.
Fonte: G1