PMs foram orientados a dizer que Amarildo foi liberado após averiguação.
O depoimento de um policial militar da UPP da Rocinha afirma que o major Edson Santos, ex-comandante da unidade, orientou a tropa a mentir sobre a morte de Amarildo, como mostrou reportagem do RJTV nesta quarta-feira (16).
De acordo com a testemunha, num tom de intimidação, o major teria instruído os policiais a dizerem que o ajudante de pedreiro tinha sido levado para a base da UPP e liberado pelo próprio major, depois de uma averiguação. Ainda segundo o PM, os policiais deveriam afirmar também que Amarildo teria usado uma escadaria da comunidade para ir embora.
O advogado Saulo Salles, que defende o major Edson Santos e o tenente Luís Felipe de Medeiros, afirmou que não pode se manifestar sobre as informações passadas pela testemunha porque ainda não teve acesso ao depoimento. Todos os presos pelo desaparecimento de Amarildo negam as acusações.
Segundo a testemunha, no dia seguinte ao sumiço de Amarildo, uma segunda-feira, PMs limparam a área onde ocorreu a tortura. E na terça-feira, eles jogaram óleo no chão para tentar encobrir vestígios de sangue. Ainda de acordo com o PM, dias mais tarde, o ex-subcomandante da UPP, tenente Luís Felipe Medeiros, ordenou a instalação de uma porta nessa área, que foi transformada num depósito de entulho e móveis.
O local só foi periciado três meses depois, na última segunda-feira (14), poucas horas após o fim do depoimento da testemunha. Amostras do material já estão sendo analisadas. Os peritos acreditam que pode ser sangue.
Capa de motocicleta
No depoimento, o policial militar contou ainda que ouviu Amarildo de Souza levar choques com uma arma usada para imobilizar pessoas, e disse ainda que a vítima foi afogada num balde. O PM dediciu fazer as revelações por temer ser assassinado, numa queima de arquivo.
No testemunho, o PM disse que a capa da motocicleta usada para esconder o corpo e retirá-lo da favela após a tortura, pertencia ao major Edson Santos.
MP promete denunciar outros 10 PMs
O Ministério Público do Rio informou que vai incluir outros dez nomes de policiais à denúncia referente ao desaparecimento do ajudante de pedreiro. Eles serão indiciados pelos crimes de tortura seguida de morte, ocultação de cadáver e também por omissão.
O MP também quer que o major Edson Santos seja transferido para outro presídio para proteger a investigação. Segundo os promotores, ele estaria influenciando os policiais presos que poderiam colaborar com as investigações em troca de redução da pena.
Na segunda-feira (14), a polícia realizou nova perícia no local onde o policial indicou que houve tortura contra Amarildo. Eles encontraram vestígios de sangue e o material foi encaminhado para análise.
No dia 1º de outubro, o ex-comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, major Edson Santos, e outros nove policiais militares foram indiciados pelo crime. Amarildo de Souza desapareceu em 14 de julho, após uma abordagem policial.
Fonte: G1