Uma hora antes do treino começar, Cláudio Mortari já está em quadra, sentado na mesa que os árbitros usam durante as partidas, mas que parece ser dele naquele momento. Fumando cigarro, ele recepciona um a um os jogadores que vão chegando, em um estilo tão fechado que é levado de forma bem humorada por toda equipe, até mesmo pelos assessores:
– Já conversei com o Mortari, pode fazer as entrevistas sem problemas. Só não entendi direito o humor dele, já que feliz ou triste ele sempre está com a mesma cara – comentou um dos assessores de imprensa do clube.
Com 66 anos completados no último mês de março, Mortari tem um currículo invejável, que tem como destaque a conquista do Mundial de Clubes em 1979 pelo Sírio e uma passagem pela seleção quando tinha apenas 30 anos de idade, mais jovem que alguns dos jogadores que foram comandados por ele.
No Pinheiros desde 2011, o técnico gosta de algumas analogias para falar das partidas. Ao ser perguntado sobre a possibilidade de enfrentar o Flamengo na final da Liga das Américas, no sábado, no Rio de Janeiro, ele é direto:
– Não podemos pensar no Flamengo antes de pensar no Xalapa do México. É que nem cadeira de barbeiro, tem que ser uma partida de cada vez.
O regulamento da Liga das Américas traz duas partidas semifinais na sexta-feira, no ginásio do Maracanãzinho. A primeira, às 19h, o Pinheiros joga com o Xalapa e, logo em seguida, o Flamengo duela com o Aguada, do Uruguai. Os vencedores fazem a final da competição no sábado, também no Rio de Janeiro. Questionado sobre a pressão que a torcida pode fazer, já que os rubro negros prometem lotar o ginásio, ele diz que é impossível um jogo de basquete sem barulho:
– Se fosse para jogar em silêncio,o campeonato seria na catedral, não no Maracanãzinho.
Mortari afirma que não sente a pressão da torcida, mas que toda vez que entra para uma partida decisiva, ainda fica um pouco nervoso, mesmo com tanta experiência:
– A gente sente a pressão do jogo, as horas que antecedem, isso a gente sempre continua sentindo. Na hora do jogo, a gente cria um bloqueio auditivo para selecionar o que vai escutar e o que vai ignorar.
O Pinheiros conseguiu a classificação para a fase final da Liga das Américas ao terminar em primeiro no quadrangular que envolveu o Regatas Corrientes (Argentina) o Aguada (Uruguai) e Capitanes de Arecibo (Porto Rico). O time venceu duas partidas e, mesmo com a derrota para o time portoriquenho na última rodada, passou de fase. As analogias de Mortari seguem, mas agora o conceituado treinador compara os títulos com sentimentos ligados ao basquete:
– Vou te falar, quando você conquista um título, contra quem foi deixa de ser importante. O importante é subir no lugar mais alto do pódio – resume, ao ser perguntado se preferia enfrentar o Flamengo ou o Aguada em uma eventual final.
Na primeira rodada da Liga das Américas, em janeiro, o armador Paulinho, uma das principais peças da equipe, se machucou no último lance da partida, está de fora do time desde então e só volta em agosto. Mortari prefere não pensar nisso:
– Paulinho tem uma importância grande na equipe, tanto que era titular. Nossas opções são atletas juvenis (Humberto e Bruno Cabloco) mas eles estão muito bem. Costumo raciocinar com o que tenho e não com quem não tenho, porque aí eu facilitaria o trabalho do adversário.
Considerado ranzinza por alguns, Mortari é adorado pelos jogadores e garante:
– Eu acho que consigo manter um relacionamento muito bom com os meninos. Isso é fundamental para uma boa convivência. Manter um alto nível de exigência e coleguismo ao mesmo tempo.
Os jogadores concordam e gostam do estilo de Cláudio Mortari, tanto dentro como fora das quadras:
– Estou no Pinheiros há menos de dois anos mas parece que estou há dez. O Mortari comanda muito bem a equipe, eu já tinha trabalhado com ele em outros lugares. Com certeza, um dos melhores do país – garante André Bambu, pivô da equipe.
Fonte: G1