Terminou a Era Dunga no Inter. O técnico foi demitido nesta sexta-feira após derrota para o Vasco, em Macaé, pela 25ª rodada do Brasileirão. O ex-jogador e ídolo do clube não resistiu ao quarto revés seguido na competição. A decisão foi comunicada ao treinador ainda no Rio de Janeiro. A direção, agora, busca um novo nome para o cargo.
Abel Braga é um dos principais cotados para substituir Dunga. Enquanto o acerto não ocorre, Clemer será o interino. O ex-goleiro campeão do mundo em 2006 e atual treinador do sub-20 começa a comandar o time no domingo, diante do Fluminense, no Centenário, pela 26ª rodada do Brasileirão.
Junto com Dunga, deixam o Inter o preparador físico Paulo Paixão, o auxiliar técnico Andrey Lopes, o preparador de goleiros Rogério Maia e o auxiliar da preparação física Mauro Cruz.
Dunga deixa a equipe com 25 vitórias, 18 empates e nove derrotas, com um aproveitamento de 59,61% em 52 jogos oficiais. Para fator comparativo, Fernandão, antecessor de Dunga, completou apenas 26 jogos, deixando o clube com 44,87%, com nove vitórias, empatando oito jogos e perdendo outras nove. Se contar apenas o Brasileirão, o desempenho dos dois é semelhante. A competição foi a única em que Fernandão esteve à frente do Colorado. E, nela, Dunga obteve 45,3%.
– Deixo a Comissão Técnica, mas continuo torcedor do nosso “Colorado” de muitas glórias, pois paixão e amor são sentimentos enraizados no meu coração e que não foram afetados pelo eventual insucesso no exercício da minha atual atividade profissional – diz, em um trecho da nota.
Dos treinadores da gestão do presidente Giovanni Luigi, iniciada em 2011, Dorival Júnior permanece como o melhor. Ele foi demitido do Inter com um rendimento de 61,9%. Em 63 partidas, teve 33 vitórias, 18 empates e 12 derrotas. Falcão só comandou o Colorado em 19 partidas, vencendo oito jogos, empatando cinco e perdendo seis, o que dá um rendimento de 50,87%. Celso Roth, que começou com o presidente Vitório Piffero, apresentou um aproveitamento de 58,16% (em 51 jogos, foram 25 vitórias, 14 empates e 12 derrotas).
Um técnico sem casa
Nas entrevistas coletivas, Dunga ressaltava repetidamete um problema na temporada: o fato de prescindir do Beira-Rio, comprometido com as obras para a Copa do Mundo de 2014. A frase clássica do técnico era: “o Inter é o único time do Brasil que sempre joga fora de casa”. A direção, primeiramente, acertou com o Caxias para atuar no Centenário. A longa distância da Serra para a capital, no entanto, fez o clube promover nova sede provisória, no Vale, em Novo Hamburgo.
Aí começaram os problemas. Contando apenas o Brasileiro, foi notória a queda de rendimento na comparação com as duas casas. No estádio Centenário, o Inter disputou quatro partidas e somou nove pontos, com três vitórias e uma derrota: 75% de aproveitamento. Em Novo Hamburgo, sete jogos, com apenas uma vitória, quatro empates e duas derroas – aproveitamento baixo, de 33%.
Primeiros meses de puro sucesso
Dunga começou a temporada com uma série de vitórias. Aproveitou o fato de o rival Grêmio priorizar a Libertadores e venceu todos os Gre-Nais disputados no Gauchão, com relativa tranquilidade. Tornou-se campeão gaúcho vencendo os dois turnos, dispensando uma decisão. Durante a caminhada, chegou a colecionar 12 partidas invictas, incluindo também a primeira fase da Copa do Brasil – perdeu a sequência para o Veranópolis, no início de abril.
Sem Libertadores, o Brasileirão surgia como grande ambição da temporada, uma taça que não é conquistada desde 1979. O início no Nacional foi claudicante. Melhorou após a pausa da Copa das Confederações. Vieram quatro vitórias seguidas, interrompidas com o surpreendente 3 a 0 aplicado pelo lanterna Náutico. A partir daí, o Colorado, que só alcançara o G-4 em duas das 25 rodadas, jamais foi o mesmo.
Sem convicção no time
No segundo turno do Brasileirão, a distância para o G-4 se alargou – de um para cinco pontos. Além de não ter a força do Beira-Rio, o Inter de Dunga sofreu com a D’Aledependência. Ou seja, jamais venceu sem o argentino – caso de domingo, contra o Cruzeiro. Além disso, em seus nove meses, o técnico demonstrou ter perdido a convicção nos seus 11 jogadores ideais. No Brasileirão, só conseguiu colocar a mesma formação consecutivamente contra Corinthians (vitória por 1 a 0) e Ponte Preta (3 a 1). Pela Copa do Brasil, embora os períodos sejam mais espaçados, nunca conseguiu manter a escalação.
Os motivos foram os mais diversos: lesões, suspensões, convocações, preservações dos departamentos médico ou físico. E também opções técnicas. Na frente da zaga, por exemplo, indefinição total para a dupla de volantes. O mesmo vale para o ataque. Otávio havia conquistado espaço, mas perdeu lugar para Caio numa partida e, na outra, Otávio já estaria de volta, inclusive marcando gol. Scocco, mesmo sem Diego Forlán estar à disposição, virou alternativa no banco. E Kleber e Fabrício se revezavam, discretos, na lateral esquerda.
Respaldo até o fim
O perfil agregador, conhecido desde os tempos em que ainda era jogador, permaneceu à beira do gramado. O vestiário foi talvez seu grande mérito no Inter. Se em 2012 os problemas de comportamento no grupo eram rotina, nesta temporada não se viram notícias sobre qualquer questão interna. Dunga soube blindar. E os jogadores seguiram respaldando o treinador até o fim, defendendo o chefe a assumindo a responsabilidade.
Nos bastidores, já se vê movimentação no sentido sucessório. Tite, atual técnico do Corinthians, foi procurado há duas semanas por emissários colorados, mas não aceitou nem conversar pelo vínculo com o clube paulista. O treinador, quando passou pelo Beira-Rio, conquistou a Sul-Americana em 2008, mas teve um problema de relacionamento com D’Alessandro, hoje a figura de maior destaque técnico e grande liderança do elenco. Luigi estava no departamento de futebol e sempre teve uma boa ligação com Tite.
Desempregados, Abel Braga, ex-Fluminense, e Mano Menezes, ex-Flamengo, se tornaram as principais opções. O primeiro tem como vantagem a identificação com o clube em que foi campeão da Libertadores e do mundo em 2006. Por outro lado, há uma vertente dentro do clube que preferiria apostar em um ‘fator novo’. Nesse caso, Mano ganharia forças. Também campeão continental, mas em 2010, Celso Roth corre por fora.
Fonte: G1