O Ministério de Relações Exteriores de Israel se mostrou surpreso nesta segunda-feira com o acordo entre Argentina e Irã para criar uma comissão independente para investigar o atentado a um associação judaica de Buenos Aires, em 1994.
O pacto foi anunciado no domingo (27) pela presidente Cristina Fernández de Kirchner e tenta dar fim ao impasse provocado pela Justiça do país sul-americano, que pede desde 2006 a extradição de oito iranianos envolvidos no ataque. A ação terminou com 85 mortos.
Segundo o porta-voz da Chancelaria, Yigal Palmor, a notícia surpreendeu Israel, que espera mais informações. “Esperamos receber dos argentinos todos os detalhes sobre o que está ocorrendo, porque obviamente este tema está diretamente relacionado a Israel”.
O acordo assinado entre Buenos Aires e Teerã prevê que as autoridades judiciais argentinas poderão pela primeira vez interrogar iranianos que possuem ordem de prisão internacional, assim como os supostos terroristas envolvidos no atentado.
Dentre os que estão na lista de extradições dos argentinos, estão o atual ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, e o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani. O Irã sempre negou ter participado do atentado e rejeitou prender os suspeitos.
A negociação selada entre os dois países foi feita após reuniões na Etiópia. O atentado atingiu a Associação Mutual Israelita da Argentina (AMIA) em 18 de julho de 1994, deixando 85 mortos. A ação ocorreu dois anos após um ataque à embaixada de Israel em Buenos Aires, que terminou com 29 mortos e 200 feridos.
POLÊMICA
Além da reação de Israel, o acordo causou polêmica e forte reação da comunidade judaica da Argentina, uma das maiores da América Latina. O presidente da AMIA, Guillermo Borger, disse que a medida é inconstitucional e pede que os acusados sejam julgados no país sul-americano.
“Não podemos estar menos que consternados. Isso é fora da lei e omite o trabalho da Justiça nesses últimos 18 anos. Fazer os depoimentos em Teerã é inconstitucional e fora de contexto”, disse, anunciando que fará uma reunião para analisar o acordo entre os dois países.
Luis Czyzewski, pai de uma das vítimas, disse à Agência Judaica de Notícias que o acordo foi um retrocesso monumental em relação ao resolvido pela Justiça argentina. “Estou muito mal, consternado e surpreendido. A presidente disse que isso é histórico e tem razão, é histórico pelo negativo”.
Segundo o jornal “Clarín”, representantes das associações judaicas argentinas terão uma reunião nesta terça (29) com o chanceler Héctor Timmerman. Nesta segunda, o governo argentino faz um ato em lembrança ao Dia do Holocausto com os ministros da Educação, Alberto Sileoni, e da Defesa, Julio Alak.
O acordo sobre o atentado da AMIA é mais uma das tentativas de aproximação entre o governo de Cristina Kirchner e a República Islâmica. A retomada das relações diplomáticas encontra forte resistência na Argentina devido ao impacto dos dois atentados, atribuídos a Teerã.