“Às vezes a felicidade demora a chegar. Aí é que a gente não pode deixar de sonhar”.
O verso é da música “Tá escrito”, eleita por Daniel Alves o hino da caminhada ao hexa. A canção serviu de roteiro da estreia brasileira na Copa do Mundo. A Seleção encontrou dissabor, não fugiu da luta e viu sua hora chegar. A mão, ou melhor, os pés de Neymar começaram a escrever um novo capítulo da história do Brasil. Seus dois gols e o de Oscar na virada de 3 a 1 sobre a Croácia fizeram com que este 12 de junho de 2014, dia em que o Mundial voltou ao país depois de 64 anos, fosse ainda mais inesquecível.
O menino gênio fez a camisa 10 da Seleção marcar um gol depois de 12 anos. Rivaldo, nas quartas de final de 2002, havia sido o último. Também quebrou um tabu de 48 anos. Desde Pelé, em 1966, o número 10 não era o autor do primeiro gol brasileiro em Copas.
E se a moda é relembrar o passado, vale dizer que em 2002, ano do penta com Luiz Felipe Scolari no comando, foi parecido. O Brasil saiu perdendo da Turquia e virou com um pênalti mal marcado, fora da área, em Luizão. Dessa vez, o japonês Yuichi Nishimura, que entrou em campo sob chiados de Felipão, caiu na simulação de Fred.
A diferença para 2002 é que ainda houve tempo para o gol de bico de Oscar, merecidíssimo para coroar grande atuação. O jogo foi o ato final de um dia de milhões de sorrisos, com torcedores tomados pelo espírito inigualável do torneio. Em torno do estádio, brasileiros recepcionaram franceses, alemães, colombianos, argentinos, gente que nem participa, como escoceses e chineses. O primeiro dia de um mês para se contar aos filhos, netos, amigos…
O Brasil volta a campo na próxima terça-feira, contra o México, na Arena Castelão, em Fortaleza, às 16h (de Brasília). No dia seguinte, a Croácia vai enfrentar Camarões em Manaus.
O apagão e a luz
“É dia de sol, mas o tempo pode fechar”
E fechou. Não no céu, em campo. Houve um lance emblemático. Com Marcelo ainda caído, David Luiz tentou bater a falta rapidamente e deu uma tremenda bolada em Luiz Gustavo, que ficou olhando como se perguntasse: “Está maluco?”. Thiago Silva pediu calma.
Olic percebeu os desacertos. No cruzamento de Perisic, cabeceou com perigo às costas de Daniel Alves. E quando ele mesmo cruzou, Jelavic só triscou na bola com o pé, e Marcelo, sem tempo de reação, desviou para a própria rede, no primeiro gol contra da Seleção em Copas do Mundo, o 37º na história do torneio.
Faltava tanto brilho à Seleção que até parte dos refletores se apagaram. Foram poucos minutos até a luz voltar e iluminar os meninos brasileiros. “Guerreiro não foge da luta, não pode correr”. Oscar não fugiu, não correu. Rakitic, Modric, Olic, Perisic… Nem todos os “ic” do mundo ganhariam a disputa do guerreiro. Ele venceu três e rolou para Neymar.
Demorou 28 minutos para o craque fazer seu primeiro gol em Copas. A bola saiu do goleiro no limite certo, o de bater na trave, entrar e construir a história. O Brasil ainda poderia ter aumentado no primeiro tempo, que acabou com apenas uma falta dos donos da casa. Cometida justamente por Neymar, que levou cartão amarelo e agora está pendurado no torneio. Se levar outro, estará suspenso para o jogo seguinte.
Valeu a pena!
“Se na vida encontrar dissabor, vai saber esperar sua hora”.
Como foi difícil esperar a hora sem a certeza de que ela chegaria. Esperava-se um Brasil embalado pelo fim do primeiro tempo, mas o time jogou mal na etapa final. A Croácia acertou a marcação, enquanto Felipão insistiu na formação da linha de três com Hulk na esquerda, Neymar pelo meio e Oscar na direita.
Hernanes e Bernard entraram nos lugares de Paulinho e Hulk, dois que produziram menos que de costume. Não foram só eles. Daniel Alves, Fred… Mas Fred é malandro. Encostou-se em Lovren até cair e o japonês Nishimura marcar pênalti. “É Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar”.
O goleiro Pletikosa foi bem, tocou na bola, mas a estrela brilhou. Neymar fez o segundo e tirou o nó da garganta de 62.103 torcedores que lotaram a Arena Corinthians. Inconformados, os croatas tentaram em vão uma reação. Felipão ainda permitiu que seu craque fosse ovacionado ao substitui-lo por Ramires no fim e viu Oscar ser coroado com um gol de bico. Sem o camisa 11, o Brasil não teria virado.
“Basta acreditar que um novo dia vai raiar. Sua hora vai chegar”. O Brasil espera por ela desde 1950. Talvez esteja escrito, como diz a música. Para Marcelo, o autor do gol contra, fica o recado do refrão: “Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé. Manda essa tristeza embora…”
Fonte: G1