LOS ANGELES, CA (BDCi) — Com apenas 4 anos de idade o jovem Guilherme Pereira já sabia o que queria ser quando crescer: cineasta. Esse sonho se tornou realidade e Gui Pereira , como é mais conhecido, hoje trilha uma bem sucedida carreira como cineasta na meca do entretenimento mundial, a tão famosa Hollywood.
O diretor dos curtas Pizza Me, Mafia, ‘Camille’, ‘Double Fault’, ‘Stallone and Me’, The Adventures of Sheriff Kid McLain sentou para conversar com a BDCi News.
BDCi News: Gui, com apenas 22 anos e com uma experiência incrível como diretor aqui em Hollywood, nos conte como foi a sua trajetória do Brasil para cá.
GUI: Eu me mudei para os EUA quando eu estava com 17 anos, mas meio que eu sempre quis estudar nos Estados Unidos. Eu sempre quis fazer cinema, e sempre soube que o melhor lugar para aprender é estar perto da indústria e que no meu caso seria em Los Angeles. Eu também sempre adorei a língua inglesa. Minha mudança para os Estados Unidos foi praticamente premeditada. Então quando ela aconteceu pra valer, acabou sendo bastante natural. Lembro que quando eu estava com 16/17 anos eu cheguei a prestar vestibular no Brasil e acabei passando. Quando eu fui me matricular, eu decidi prestar o SAT e ver no que dava. Acabei tirando uma nota boa e acabei entrando em uma faculdade aqui em Los Angeles. Não tive dúvidas, acabei me mudando.
BDCI News: No Brasil você também trabalhou no teatro, o projeto visava levar cultura para crianças menos favorecidas. Como foi essa experiência?
GUI: Eu estudei minha vida toda no colégio Liceu Santa Cruz, na Mooca, em São Paulo. O Liceu tinha (e ainda tem) um programa extracurricular de teatro muito bom e muito profissional que é coordenado pela diretora de teatro Sonia Melle. Todos os anos o Liceu montava entre uma e duas peças teatrais que eram apresentadas no próprio Liceu e também em alguns CEUs da cidade de São Paulo. o CEU é tipo um mega centro cultural criado pela prefeitura de São Paulo que levava cultura para as pessoas mais carentes. Eu participei de duas peças que foram pro CEU. Uma era sobre a história da música brasileira e a outra era uma adaptação do filme “Luzes da Cidade”, do Charles Chaplin. As duas peças foram super bem recebidas. Eu gosto do teatro pelo fato de que você tem uma reação imediata com o público. Ao vivo é muito mais difícil, dá muito mais frio na barriga, mas em compensação é muito mais emocionante na hora em que o público ri de alguma situação, quando ele chora e quando ele aplaude.
BDCi News: Quem são seus ídolos? Fala da sua paixão pelo cinema, por produzir e dirigir filmes.
GUI: Ídolos é o que não falta para mim. Antes de mais nada, eu sempre falo que meus maiores ídolos como artistas e pessoas são os músicos Chitãozinho e Xororó. Eles me deram uma enorme oportunidade de dirigir um projeto para eles quando eu tinha 19 anos e acabado de me formar. Eles são meus maiores ídolos pelo fato de serem humildes, de respeitarem os outros… eles são os maiores exemplos de artista em minha vida. Eles conseguem ser profissionais e agradáveis ao mesmo tempo. Eu já me deparei com muito Zé Ninguém que se sentia o rei do pedaço e que menosprezava qualquer coisa que eu falava ou sugeria, que se achava superior. Enquanto isso, Chitão e Xororó com mais de 40 anos de carreira, 3 prêmios Grammy, primeiro lugar na Billboard, realmente me ouviam, colaboravam comigo, queriam aprender, ensinar… queriam criar. Isso é o que separa os bons artistas do resto.
Agora, no meio do cinema tenho diferentes ídolos por diferentes motivos. Começando pelo mais popular, tem o Sylvester Stallone. Eu não tenho a mínima vergonha de assumir: Eu sou fã do Stallone! Seja Rocky, Rambo, Cobra, Os Mercenários, O Especialista, Assassinos, Daylight, Escape Plan….. eu assiti a todos os filmes do Stallone e eu adoro todos! O cara é o maior exemplo de estrela de Hollywood. Ele não só atua como também escreve e dirigi a maioria de seus projetos. Eu respeito isso muito nele. O Stallone é um guerreiro que tinha um sonho e foi atrás dele. E minha primeira experiência cinematográfica foi aos 6 meses de idade quando eu assisti ao filme Rocky 4 inteiro sem piscar. Parece mentira, mas minha mãe conta essa história a muitos anos, tem até no meu livro de bebê.
Falando de diretores, o primeiro da lista que eu tenho que falar é Steven Spielberg. O primeiro filme que eu vi no cinema foi “Jurassic Park”, e o Spielberg foi o primeiro que eu identifiquei como um diretor de filmes. Eu sabia que ele tinha sido o diretor de Indiana Jones e o “ET”. Eu tive a oportunidade de assistir a uma palestra que ele deu no ano passado. Eu estava em choque durante metade da palestra. Foi um sonho que se tornou realidade. Jamais esquecerei.
O próximo diretor da minha lista é o Robert Rodriguez. Desde pequeno eu era fã dos filmes “El Mariachi”, “Desperado” e “Prova Final”, e passei a adolescencia assistindo a todos seus filmes. O livro que ele escreveu ‘A Rebel Without a Crew’ foi o meu primeiro contato com uma literatura mais voltada para como se fazer filmes e cinema. Eu tive a oportunidade de conversar com o Robert em 2006, e ele me encorajou e disse para eu acreditar que eu um dia chegaria ao topo. Espero algum dia me encontrar com ele novamente e agradece-lo. É incrível o poder que as palavras de um ídolo pode fazer com você.
E para finalizar, ao começar a estudar mais cinema, e ler mais sobre o assunto e sobre sua história, encontrei outros ídolos. Tratam-se de Quentin Tarantino (dispensa apresentações); François Truffaut, sempre que passa algum filme do Truffaut aqui no cinema revival New Beverly eu vou assistir! O outro diretor que também é meu idolo é Federico Fellini. Amo todas suas fases e meu filme favorito dele é Julieta dos Espíritos. E o último que quero citar é o meu diretor favorito, Hal Ashby. Hal começou a carreira (e tem um Oscar) como diretor. Eu amo todos os seus filmes. Ele dirigiu o meu filme favorito, “Muito Além do Jardim” que traz Peter Sellers no elenco.
BDCi News: De todos os seus projetos, qual o seu favorito e porque?
GUI: Essa pergunta é meio punk! É tipo perguntar qual é seu filho favorito! Mas devo confessar que tenho um carinho especial pelo meu curta ‘The Adventures of Sheriff Kid McLain’. Ele foi a primeira vez que eu realmente investi em um curta, e que eu trabalhei em um gênero que remete à minha infância e ao o que eu cresci assistindo: o faroeste. Cresci varando noites assistindo a filmes do John Wayne e ouvindo música country, de Johnny Cash a Garth Brooks. O mundo do velho oeste teve muita influência na minha formação. Escrevia histórias de cowboy, me vestia de cowboy. Sempre adorei esse mundo. Pode parecer noon-sense mas Kid McLain é um filme muito pessoal para mim. Ele me remete a quando eu brincava e entretia meus dois primos mais novos Junior e Rodrigo. O filme conta a historia de dois irmãos que se aventuram no velho oeste. E devo admitir que algo que também contribuiu para escrever o filme foi o fato de quando eu era pequeno, meu pai me mostrou uma música/cantiga/história de uma dupla sertaneja chamada Léo Canhoto e Robertinho… a música se chamava Amazonas Kid. Ela contava a história de um xerife destemido e bravo do qual todos tinham medo e respeito por ele. A personagem do xerife Kid McLain foi meio que baseada em cima desse Amazonas Kid. E pra finalizar, o primeiro prêmio internacional que eu ganhei foi de Melhor Curta de Ação pelo filme do Kid Mclain, e a premiação aconteceu dia 27 de Outubro, mesmo dia do aniversário do meu primo Junior, a quem dediquei o filme.
BDCi News: Como é fazer cinema aqui? Em relação ao Brasil, qual foi a maior diferença que você sentiu quando chegou aqui, em especial ao ritmo de trabalho?
GUI: O que deu pra perceber é que aqui em Los Angeles TODO MUNDO TRABALHA NESSE RAMO! Por um lado é mais fácil pois você tem mão de obra e equipamentos ao seu redor. Mas por outro lado é muito mais competitivo. Então não existe essa de ‘se acomodar’ no trabalho. Se você quer ser o melhor você tem que dar tudo de sí. Não adianta ter somente um projeto engatado. Você tem que ter um projeto filmando, três produzindo, cinco escrevendo e uns dez planejando. Não dá pra ficar parado.
BDCi News: Você tem uma equipe que sempre trabalha junto em seus projetos?
GUI: Tenho uma equipe muito bacana que procuro sempre conciliar a agenda de trabalho. As vezes não dá, mas na maioria das vezes dá certo. Minha principal parceira que escreve meus roteiros comigo é a escritora Lara Horton. Meu diretor de fotografia é o Martin Moody, que trabalhou em longas como Rock of Ages e Nebraska. Minha equipe de design de produção varia entre meus amigos Frank Bonano e a Lauren Fitzsimons. Fora eles, tenho uma equipe de amigos que estão sempre produzindo comigo, produzindo para mim, trabalhando na câmera, e assim por diante, como: Jonathan London, Ryan Stockstad, Andrew Kadikian, Allison Zahigian, Jake Klarkowski, Julian Ianini, Austin Cline, Kevin Chacon, Jake Burke, Angela Ortner, Kathryn Begle, Gerald Wilcox e o quarteto fantástico Andy, Bovi, Deric e Kell.
E pra finalizar, tem uma dupla de atores que eu sou fã e que estão em todos os meus projetos. Trata-se dos talentosíssimos Lou D’amato e o brasileiro Guile Branco. Trabalho com o Guile em todos os meus projetos desde 2010, quando ele atuou em um curta meu e conseguiu mentir pra mim alegando que era francês.
BDCi News: Qual os planos para o futuro?
GUI: Estou com vários projetos engatados, inclusive meu primeiro longa que pretendo filmar por volta de março do próximo ano. Fora o longa, estou desenvolvendo um documentário e uma web-séries.
BDCi News: Mais alguma coisa que você gostaria de adicionar nessa entrevista?
GUI: Só queria falar que pra qualquer pessoa que queira estudar cinema e que tem um sonho, este sonho não é impossível alcançar. Durante minha vida eu encontrei bastante gente falando que era impossível, que ninguém dura nessa carreira e blá blá blá. Todo esse lixo informativo eu excluí, e escutei somente aquelas pessoas (amigos e família) que acreditavam em mim e que estavam contando comigo. Eu não queria somente realizar meu sonho, eu não podia desapontar todo mundo que sempre torceu por mim. Ainda tô começando a minha carreira, mas eu já posso admitir que já estou vivendo um sonho. E com determinação e foco, é possível realizar qualquer coisa.